Após o controle da pandemia global de covid-19, que transformou nossa realidade social, podemos ver claramente uma “crise climática” igualmente relevante e abrangente, que intriga especialistas e pesquisadores em todo o mundo com relação ao nosso futuro.
Na última década e, especialmente, nos últimos anos, o sensível aumento de eventos catastróficos – de calor e seca extremos ou de frio e cheias incomuns – dão conta da magnitude e da gravidade das alterações do clima, alertando para uma situação nunca antes percebida.
Um exemplo muito recente foram as precipitações torrenciais na cidade de São Sebastião, no litoral norte paulista, que em apenas 24 horas despejaram quase 700mm de chuva, número este nunca registrado no país e assim, fora de qualquer referência da engenharia hidráulica. Além de vitimar fatalmente dezenas de pessoas e tirar outras milhares de suas casas, causou inúmeros prejuízos financeiros. Infelizmente este é somente um exemplo de desastres naturais que têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos no mundo todo.
É fato que também os principais reservatórios estão com alta capacidade, ajudando não somente a captação de água para tratamento, como também a geração de energia (em reservatórios onde temos usinas geradoras instaladas). Porém, é verdadeiro o fato que pontualmente muitas cidades enfrentam atualmente problemas de falta de água, mesmo nessa época de fortes chuvas que passamos. Esses pontos atuais, todavia, não apagam a luz amarela de alerta para novos eventos de escassez aguda de água. Muitos meteorologistas têm sido pessimistas quanto aos efeitos do El Niño e La Niña no regime e distribuição de chuvas para os próximos meses (ou anos), revelando um grande nível de incertezas ou de fragilidade para o futuro.
E voltamos à questão que resta: diante dessas preocupações e incertezas, o que fazer? Como agir frente a um ciclo hidrológico e um clima futuro desconhecido e imprevisível?
Há pelo menos três ordens de ações que merecem detida atenção. A primeira diz respeito ao conjunto de estratégias e medidas para o enfrentamento da crise e respostas aos problemas mais agudos da seca. Nesse âmbito, muito se aprendeu com as últimas crises hídricas no Estado de São Paulo, quanto às opções e estratégias para o aumento da oferta de água e para a gestão da demanda, ambas fortemente vinculadas e dependentes de investimentos robustos e continuados e, também, do fortalecimento das políticas e sistemas de governança das águas.
A segunda ordem de ações diz respeito ao futuro. Tempos atrás havia um entendimento geral de que a ocorrência de novos eventos extremos seria previsível, porém, com grande nível de incerteza. Desta vez, não se questiona mais se haverá ou não um novo evento extremo. O que se discute é quando ele ocorrerá.
A terceira ordem diz respeito à proteção a vida. Locais propensos, quando mapeados, devem ter, além de projetos inteligentes de infraestrutura para mitigação de riscos, sistemas de aviso para que haja tempo para as pessoas evacuarem estes locais, salvando o bem maior, que é a vida.
Neste caso, para uma nova e provável situação de severidade hídrica, igualmente excepcional, deve haver ações e estratégias que previnam ou reduzam as vulnerabilidades dos sistemas de abastecimento e de produção de água. São necessários recursos e esforços permanentes para a elaboração e atualização de estudos, planos e projetos e, também, para o monitoramento hidrológico e das condições climáticas, de modo a subsidiar agentes públicos, gestores e prestadores de serviço a se preparem para situações de anormalidades hídricas e climáticas.
É notório, portanto, que tratar disso somente em momentos de crise – e não de normalidade hídrica – é, além de um tremendo desperdício, um enorme (e perigoso) contrassenso, que pode direta ou indiretamente custar muitas vidas.
A ABES-SP, por meio de suas Câmaras Técnicas de Recursos Hídricos e de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, estará atenta a cada passo, acompanhando todos os movimentos e debates, buscando contribuir com o desenvolvimento socioeconômico, com a qualidade de vida e com a sustentabilidade hídrica e ambiental no Estado de São Paulo e em todo o País.
Nota conjunta da CTRH - Câmara Técnica de Recursos Hídricos e da CTMA - Câmara Técnica de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas
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