Se a Copa do Mundo fosse uma competição que levasse em consideração as condições de saneamento básico, o Brasil não passaria das oitavas de final. Esta é a conclusão do levantamento “Copa do Mundo do Saneamento”, realizado pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, comparando as condições sanitárias entre todos os países que participarão do mundial no Catar, a partir de 20 de novembro, tal qual estão dispostos na tabela da Copa (acesse aqui a tabela). O estudo foi feito com base em dados JMP_2021_WLD da Organização Mundial de Saúde – UNICEF.
O material foi elaborado pelos membros do Programa Jovens Profissionais do Saneamento – JPS da ABES Álvaro Diogo Sobral Teixeira – compilação do material, preenchimento da planilha e redação do pré-release; Marina Roque Oliveira – criação do gráfico com indicadores do Brasil; e Sabrina Onofre – revisão geral da planilha de indicadores.
Na Copa do Saneamento 2022, quem levanta a taça é a Coreia do Sul. Em segundo lugar vem a Suíça, em terceiro, os Estados Unidos e em quarto, a Inglaterra.
O JMP considera satisfatórias as condições de saneamento a partir de um conjunto de itens, como:
Água: ligações domiciliares, Poços Artesianos, Captação, armazenamento e utilização de água da chuva, dentre outros;
E para o Saneamento: a existência de vaso sanitário, sistema de coleta de esgoto (coleta, bombeamento, tratamento e disposição final adequada) e fossa séptica, entre outros.
Quase 35 milhões de pessoas no Brasil vivem sem água tratada e cerca de 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto, resultando em doenças que poderiam ser evitadas, e que podem levar à morte por contaminação. Esse é o cenário quase dois anos depois de entrar em vigor o Novo Marco Legal do Saneamento, sancionado na Lei 14.026 de 2020
Somente 50% do volume de esgoto do país recebe tratamento, o que equivale a mais de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto in natura sendo despejadas diariamente na natureza (Agência Senado) e mais de 5 milhões não têm nem sequer banheiro.
Brasil cai mais uma vez nas oitavas de final
O desempenho do Brasil foi o mesmo da Copa de 2018, em que caiu em um grupo “fácil” que possibilitou ser o único país latino-americano a avançar para as oitavas de final. Porém perdeu, assim como em 2018, para a forte seleção da Coreia do Sul, que seguiu passeando até se consagrar campeã.
O Grupo G contou com a presença da tradicional Suíça (100,0%), Sérvia (56,5%) e Camarões (33,0%), onde o Brasil passou em segundo lugar com o indicador de 74,4%.
Importante destacar que o Brasil é o país com a segunda maior população a disputar o campeonato e o terceiro maior em extensão territorial, dois elementos cruciais no desafio da universalização do saneamento.
Coreia do Sul campeã
Após conquistar o vice-campeonato na Copa do Mundo do Saneamento de 2018, a Coreia do Sul consagra-se campeã da Copa do Mundo do Saneamento de 2022 da ABES, com atendimento maior que 99% tanto nos indicadores de acesso à água potável como na gestão segura dos serviços de saneamento e com uma população de 51.269.000 de habitantes os sul coreanos performaram um campeonato ímpar deixando pelo caminho países com altos indicadores como Espanha, Estados Unidos da América e Suíça.
O Grupo da Morte
No Grupo B, três das seleções contavam com indicador de 99%. O empate triplo foi resolvido pelo critério da população, deixando o Estados Unidos da América com o primeiro lugar do grupo, a Inglaterra com o segundo lugar e o País de Gales de fora da fase eliminatória.
O Grupo da Morte 2
Apesar do empate triplo no Grupo B, o Grupo D é o que apresenta maior média dos indicadores (90,5%). Neste grupo também houve desempate pelo critério da população, onde na disputa do segundo lugar entre França (89,5%) e Tunísia (89,5%), a França levou a melhor e avançou para a fase eliminatória ao lado da Dinamarca (96,0%).
O domínio do velho continente
Dentre os 16 países classificados para a etapa eliminatória, 10 são da Europa e seguem fazendo história na Copa do Mundo do Saneamento da ABES. Destaque para a Suíça (100,0%) vice-campeã e para a Inglaterra (99,0%) que ficou com o 4º lugar.
O sonho americano
Estados Unidos da América, depois de não ter participado da Copa do Mundo do Saneamento de 2018 conquista o terceiro lugar em uma disputa acirrada com a Inglaterra resolvida nos pênaltis, ou melhor, pelo critério de desempate do país com maior população.
O desafio da universalização do acesso à água potável no continente africano
Dos países com indicador de acesso à água potável menor ou igual à 90% estão quatro países africanos: Camarões (66%), Senegal (85%), Gana (86%) e Marrocos (90%). Demonstrando que o desafio para universalizar o saneamento no mundo ainda necessita de investimentos em reservação, captação, tratamento e distribuição de água potável.
O multiverso do futebol no saneamento
A França (89,5%), campeã da última edição da Copa do Mundo de futebol caiu na Copa do Mundo do Saneamento de 2022 para a Polônia (95,5%) nas oitavas de final.
E a Bélgica (94,5%), algoz da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol da Rússia em 2018, aqui na Copa do Mundo do Saneamento da ABES caiu também nas oitavas de final para a Espanha (98,0%).
Argentina: assim como são rivais no futebol, Brasil (74,4%) e Argentina (72,0%) também rivalizam nos indicadores de acesso à água potável e de gestão segura dos serviços de saneamento, porém este ano o Brasil logrou um resultado um pouco melhor que a Argentina que caiu na fase de grupos.
20 anos do penta
Foi em 2002 a última vez que o Brasil conquistou a Copa do Mundo de futebol e carimbou a quinta estrela em seu brasão. De lá pra cá, no mundo do Saneamento, o Brasil saltou seu indicador de 65,4% para 74,4%. Será que na próxima Copa do Mundo do Saneamento da ABES, em 2026, o Brasil consegue ir além das oitavas de final?
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